Boa Tarde galera, estou iniciando este blog com o intuito de divulgar e dialogar sobre a música caipira, a autêntica e original música sertaneja, e para começar não poderia de deixar de falar sobre ele, que deixou seu nome gravado em suas canções, nos seus solos de viola, na sua voz marcante, até mesmo quem não gosta de música sertaneja já ouviu falar ou escutou alguma canção, estou falando de José Dias Nunes, o saudoso mestre Tião Carreiro!
Eu sou suspeito a falar, pois sou grande fã de Tião Carreiro, para mim não nasceu e nem nascerá outro igual!
"Tião Carreiro pra mim o que ele aprendeu ele levou com ele." - Frase de João Mulato
Quem começa a tocar viola nos primeiros acordes com certeza, quer aprender alguma música ou solo de Tião Carreiro. Sua genialidade foi tanta, que ele em uma de suas gravações resolveu inovar e criou o Pagode, um ritmo que até hoje faz sucesso, não se ouve em falar em pagode de viola sem lembar nele, Tião Carreiro o rei do Pagode!
Biografia de José Dias Nunes, Tião Carreiro
Natural de Montes Claros, norte de Minas Gerais, nasceu em 13 de dezembro de 1934.
Filho dos lavradores, seu pai Orcissio Dias Nunes e sua mãe Júlia Alves
da Neves, tiveram 7 filhos, quatro homens, Cumercindo, Guilhermino, Jóse
Dias Nunes e Valdomiro e três mulheres, Ilda, Maria e Santina.
Neto de Ricardo e Maria por parte do pai e de José Alves e Porcidonia por parte da mãe.
O quarto a nascer de um total de sete filhos: - Cumercindo, Ilda,
Guilhermino, José Dias, Maria, Santina e Valdomiro - exatamente nesta
ordem.
Até os 10 anos de idade morou no norte de Minas Gerais nas regiões de Montes Claros, Monte Azul, Pajeú, Rebentão e Catuti.
Seu irmão, Guilhermino, morreu ainda menino vítima de um sarampo recolhido.
Levando uma vida humilde, conseqüência da falta de emprego gerada pela
seca que assolava aquela região e com a esperança de um futuro melhor a
família de José Dias resolve tentar a vida em São Paulo.
Saíram da região de origem num caminhão tipo pau-de-arara e seguiram
rumo a Montes Claros onde embarcariam no trem com destino ao interior do
Estado de São Paulo. As crianças não possuíam registro de nascimento e
por este motivo a família teve que aguardar 3 dias para obter do juizado
de menores uma autorização para prosseguirem.
Obtida a autorização seguiram viagem até Paulópolis/SP onde permaneceram por pouco tempo pois seu pai veio a falecer.
A avó materna de José Dias, Dona Porcidonia, morava em Flórida Paulista e foi para lá que se mudaram nesta época.
Algum tempo depois foram tocar roça em Valparaíso/SP.
O pai, quando morreu, deixou-lhe a primeira viola. Uma herança que o
garoto saberia como ninguém valorizar. Seus dotes de músico já eram
notados, aos oito anos de idade dedilhava no braço da enxada e com
elástico nos dedos tentava tirar sons musicais.
O menino da viola nunca foi à escola, mas tinha sonho de ler e escrever.
Começou então folheando jornais velhos. E foi dessa forma que José
Dias, juntando as letras, se alfabetizou. Da mesma maneira aprendeu a
tocar, ou seja, sozinho, observando e juntando acordes e notas.
Aos 16 anos tomou a decisão que marcaria sua vida. Já apaixonado pela
música decide deixar o trabalho no campo e se arriscar em outro mundo,
em nova profissão. Que sorte a nossa! O Brasil ganharia um dos músicos
sertanejos mais importantes que revolucionaria e influenciaria gerações.
José Dias trabalhava como garçom no restaurante do Hotel do Manoel
Padeiro, onde, nas horas vagas, cantava músicas populares e sambas da
época. Aos domingos participava do programa “Assim canta o sertão”, da
rádio transmissora de Valparaíso/SP.
Formou dupla com o amigo Valdomiro e se apresentavam no circo Giglio com os nomes de Zezinho e Lenço Verde.
Formou outras duplas com os nomes de Palmeirinha e Coqueirinho, Palmeirinha e Tietêzinho, Zé Mineiro e Tietêzinho.
O proprietário do circo onde ele tocava naquela época comentou que dupla
de violeiros tinha que tocar viola, e ele tocava violão. No mesmo ano,
na cidade de Araçatuba/SP, apresentaram-se - Tonico e Tinoco, a dupla
Coração do Brasil. Tonico deixou a viola no circo e foi para o hotel
descansar, José Dias pegou a viola e decorou a afinação.
Logo em seguida ganhou uma violinha de presente pintada à mão pelo
pintor Romeu de Araçatuba. E a partir daí, inspirando-se num dos
melhores violeiros da época: Florêncio, da dupla Torres e Florêncio foi
seguindo em frente, trilhando seu caminho.
Conheceu Dona Nair Avanço em Araçatuba numa festa junina no ano de 1953, namoraram 14 meses e se casaram.
Tiveram uma única filha, Alex Marli Dias, hoje casada com Gilberto
Rodrigues da Silva e mãe de Renan Rodrigues da Silva, com 10 anos, o
único neto de Tião Carreiro.
José Dias conheceu Pardinho, seu principal companheiro, no circo Rapa
Rapa na cidade de Pirajuí/SP. Pardinho era ajudante braçal e cantava nas
horas de folga. Passaram a cantar juntos com os nomes de Zé Mineiro e
Pardinho, depois de dois anos a convite de Carreirinho mudam-se para São
Paulo. Era Maio de 1956 e sua única filha Alex Marli acabara de nascer.
Já em São Paulo conhecem Palmeira que os apresenta a Teddy Vieira,
diretor sertanejo da RCA Victor, gravadora de grande projeção na época.
Teddy os leva a gravadora Colúmbia e batiza José Dias de Tião Carreiro.
Ele não simpatizou com o nome de imediato, mas acabou concordando.
Começa então a história de Tião Carreiro.
Gravam o primeiro disco, um 78 rpm, lançado em novembro de 1956. As
músicas eram “Boiadeiro punho de aço”, moda de viola e “Cavaleiros do
Bom Jesus”, um cururu, ambas composições do padrinho Teddy Vieira.
Após o primeiro registro, Tião dá um tempo na parceria com Pardinho e
forma dupla com Carreirinho. Foi uma época de grande produção. Em março
de 1959 nasce um novo ritmo – o pagode-de-viola. Tião percebeu que
naquele recortado mineiro que havia gravado misturado a outras batidas ,
a viola assumia um papel importante, e que havia encontrado algo
realmente novo.
Tião Carreiro e Pardinho, novamente juntos, gravam pela primeira vez
“Pagode em Brasília”, música de Teddy Vieira e Lourival do Santos. Uma
homenagem à nova capital do país. A composição fazia parte de um disco
78 rpm, do selo Sertanejo, lançado com grande sucesso em agosto de 1960.
Tião com sua habilidade e destreza criou inúmeras introduções e arranjos
ao pagode-de-viola, verdadeiras preciosidades. Mas Tião não parou por
aí, desenvolvendo uma inconfundível batida, inovando com um estilo
próprio. Na verdade Tião inventou uma forma original para os violeiros
que cantam em dupla e usam como acompanhamento a viola e o violão. Na
riqueza de ritmos e estilos Tião gravou moda de viola, cururu, cateretê,
valseado, querumana e até tango.
E quando a música sertaneja se tornou mais urbana, ganhando outras
influências, o violeiro se mostrou aberto a novas experiências e gravou
guarânias, rasqueados e balanços. Ele nunca se preocupou com o gênero
musical e sim com o que as pessoas queriam ouvir.
Tião também aprimorou o estilo de cantar em dupla. A segunda voz que é a
mais grave era colocada com mais destaque do que a primeira. Estilo que
depois foi seguido por várias duplas.
O saldo desta carreira de sucesso: 25 discos 78 rpm com Pardinho e
Carreirinho, mais de 50 LPs com variados parceiros, dois LPs em solos de
viola caipira e mais de 300 composições com os mais importantes nomes –
Teddy Vieira, Dino Franco, Moacyr dos Santos, Zé Carreiro, Zé Fortuna,
Carreirinho e Lourival dos Santos, amigo, conselheiro e companheiro mais
constante.
Tião Carreiro foi também um dos grandes responsáveis pela popularização
da música sertaneja, tirando-a dos programas sertanejos das rádios nas
madrugadas e colocando-a nos teatros, rodeios, exposições e no horário
nobre da televisão.
Ainda em vida teve o prazer de possuir a viola vermelha de Florêncio e o
Violão de Torres. A viola foi cedida por Moreninho da dupla Moreno e
Moreninho, e o violão ganhou de um amigo da cidade de São José do Rio
Preto – Marco Aurélio Garcia, o Lelo, no dia 11/04/1992.
Tião Carreiro se foi como os grandes mestres, antes da hora, vítima de
complicações advindas da diabetes que lhe consumiu lentamente, sem
compreender a dimensão e o alcance de seu trabalho. Porém conseguiu o
que todo artista sonha – compôs com os melhores letristas, tocou seu
instrumento como poucos e cantou como ninguém, era um músico completo.
Honrou, sem dúvida a herança recebida de seu pai.
José Dias Nunes, Tião Carreiro, faleceu dia 15/10/1993, e foi Sepultado
no cemitério da Lapa, onde foi construído um memorial em sua homenagem e
que todos os dias de finados , inúmeros fãs se reúnem em volta do
túmulo do artista e passam horas e horas cantando seu repertório e
relembrando alguma passagem de sua carreira.
As particularidades de Tião Carreiro
Tião Carreiro, habilidoso tocador de viola, um dos maiores violeiros
brasileiros, com seu carisma e talento , exercicia uma magia sobre a
pessoas, tendo conquistado um público fiel, que mesmo após dez anos de
sua ausência física, continuam cultuando o ídolo.
Tinha um carinho especial pelos fãs, era atencioso com eles, apesar de
sisudo, possuía uma doçura embaixo da aparência carrancuda.
Soube cultivar grandes amigos e também conserva-los sempre, homem de
aparência séria, as vezes tímido, mas ao mesmo tempo desinibido
enfrentava grandes platéias.
Aonde chegava era rodeado de pessoas, que se encantavam com seu jeito
autêntico de ser, sua humildade, suas histórias cômicas, folclóricas,
exagerando nas coisas propositalmente.
Seu time o Corinthians, sua religião católico não praticante mas devoto
de de N.Sra. Aparecida, e acreditava em benzimentos também.
Adorava se vestir bem, jóias, bons perfumes, bons carros, e assistir corridas de cavalos.
Não bebia como todos diziam, muito pelo contrário , guardava os whiskes e
pingas que ganhava e formou um coleção de bebidas que gostava de
mostrar aos amigos.
O Pagode
Tião Carreiro tocava viola desde jovem, mas era inconformado sempre
procurando novas formas de tocar, foi aí que inventou um ritmo
diferente, em que a viola batia cruzado com o violão, numa mistura de
recorte do catira lento com o recortado mineiro mais expressivo.
O pagode foi criado por Tião Carreiro na rádio cultura de Maringá/PR;
Tião começou a bater com sua viola e conseguiu fazer a junção da viola
com o violão na mesma gravação.
Chegando em São Paulo, tocou a fita para o Lourival dos Santos –
consagrado compositor sertanejo e Teddy Vieira e estes ao ouvi-la ,
comentaram, parece um pagode – pagode em Minas Gerais era baile, e
estava batizado o novo ritmo, e Tião Carreiro tornou-se “O Rei do
Pagode”.
O primeiro pagode a ser gravado foi “Pagode em Brasília."(e não Pagode como havia constado).
Na cultura da música raiz , o Pagode sertanejo é hoje um dos ritmos mais
tradicionais, tendo projetado Tião Carreiro por seu toque marcante e
inconfundível , passando a enriquecer a lista dos ritmos regionais.
(biografia produzida por Alex Marli Dias - filha de Tião Carreiro com a colaboração de Cléber Toffoli e Eliana Arens).
http://www.tiaocarreiro.com.br/interna.php?page=biografia
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