sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cornélio Pires - O pioneiro da música caipira

Boa tarde galera, pra se falar em moda de viola, música caipira não podemos deixar de citar o nome dele, Cornélio Pires, através dele foram feita as primeiras gravações da música caipira, através de suas produções de discos independentes      .
                                                  

Cornélio Pires nasceu em Tiête-sp no dia 13/07/1884, e faleceu no dia 17/02/1958. Cornélio Pires herdou de seu pai, o Sr. Raimundo, o gosto e também a habilidade para "contar os causos". Foi Escritor, compositor, conferencista, jornalista, "contador de causos", folclorista e poeta, dedicou grande parte de sua vida à compilação e divulgação da cultura sertaneja, através de livros, discos, filmes, conferências, artigos de jornais e composições musicais ("Moda do Peão" e "Jorginho do Sertão" são dois exemplos do excelente trabalho musical de Cornélio).
Já existia evidentemente esta Cultura, no entanto, foi Cornélio Pires que, com o seu inestimável trabalho, possibilitou que a Música Caipira fosse divulgada.
Em 1929 Cornélio Pires, num procedimento inédito até então, resolveu divulgar em disco músicas, anedotas, versos e outras manifestações caipiras e, para tanto, procurou a firma Byington & Company. O diretor da Colúmbia - representante local da Byington & Company - era o americano Wallace Downey e o proprietário da empresa era o Dr. Alberto Jackson Byington Jr. Que não se interessou nem um pouquinho pelo projeto pois “tinha certeza de que o mesmo não teria nenhuma lucratividade”.

- Gravar discos de anedotas e violeiros? Isso é “mais uma piada sua”! Não há mercado para isso, não interessa!

- E se eu gravar por conta própria"?

- Bem, nesse caso, você teria que comprar mil discos. Quero dinheiro à vista, nada de cheque e, se o pagamento não for feito hoje mesmo, nada feito". Lógico que Byington Jr. estava tentando descartar de vez tal possibilidade ou, em outras palavras, era proposta de quem não queria mesmo fechar negócio de jeito nenhum.

Cornélio Pires calculou então quanto custariam os mil discos e saiu à procura do amigo Castro na Rua 15 de Novembro,  e lhe pediu o dinheiro emprestado. Retornou em seguida à sede da gravadora e, entrando na sala de Byington Jr., jogou sobre a mesa deste, um grande pacote embrulhado em jornal.

- O que é isso?

- Uai, dinheiro! Você não queria dinheiro?

Byington Jr. abriu o pacote, “assombrado”:

- Mas aqui tem muito dinheiro!

- É que, ao invés de mil discos, eu quero cinco mil!!

Meio aturdido, Byington Jr. tentou convencê-lo de que cinco mil era muito, era "uma loucura". Naquele tempo não se faziam prensagens iniciais em tais quantidades nem mesmo para artistas famosos! O número na época era "astronômico", por assim dizer...

Cornélio foi ainda mais além:

- "Cinco mil DE CADA, porque já no primeiro suplemento vou querer cinco discos diferentes e portanto são 25 mil discos".

Aqui abro um parêntese para citar um “engano”, muito comum entre quase todos os pesquisadores pois, no primeiro suplemento, saíram 6 discos diferentes. Em vez de 25 mil, foram lançados 30 mil discos, em Maio de 1929, segundo fontes concretas, prestadas pelo criterioso pesquisador o professor Nirez. A confusão se faz e é evidente que se faça, porque em Outubro de 1929, no segundo suplemento, foi que Cornélio lançou 5 discos, com também cinco mil de cada, totalizando dessa forma, os 25 mil discos.

E foi assim que Cornélio Pires pagou a prensagem dos discos (com dinhero emprestado, conforme já foi mencionado) e lançou a Série Caipira Cornélio Pires, com o número especial 20.000, e o famoso “selo vermelho”, também especial. Na turma, por sinal, Mariano e Caçula, gravavam pela primeira vez o gênero moda-de-viola, com a música “Jorginho do Sertão” (Cornélio Pires). 


http://www.boamusicaricardinho.com/index_int_2.html




A PRIMEIRA MODA DE VIOLA

A primeira moda de viola gravada no ano de 1929, de cornélio Pires, Jorginho do sertão, gravado em disco de 78Rpm, nas vozes da dupla Caçula e Mariano.


Jorginho do Sertão





Narração de Cornélio Pires:


"Jorginho do Sertão": Moda de Viola Paulista. Folclore Paulista.
 



Parte Cantada:




Ajudai meu companheiro
Ai, ai, ai, ai...
No meio desse salão
Ai, ai, ai, ai...
Que nóis dois cantando junto
Faz chorar dois coração... 

O Jorginho do Sertão
Rapazinho inteligente
Numa carpa de café
Ele enjeitou três casamento. 

 Ele acabou seu serviço
Tão alegre tão contente
Veio dizer pro seu patrão:
"Quero a minha conta corrente"

"Jorge: a conta eu não lhe dou 
Pro vosso procedimento.
Tenho três filha solteira,
Eu lhe ofereço em casamento"

Logo veio a mais velha
Por sê a mais interesseira:
"Jorginho case comigo
Que eu sou a mais trabalhadeira"

Logo veio a do meio
Cheia de tope e de fita:
"Jorginho case comigo
Que eu das três sou a mais bonita"

Logo veio a mais nova
Vestidinho amarelo:
"Jorginho case comigo
Que das três sou a flor da terra"

O Jorginho do Sertão:
É rapaz de pouca luma;
"Não posso casar co' as três,
Ai, eu não caso com nenhuma"

Na hora da despedida:
Ai, ai, ai, ai...
É que a moreninha chora:
"Ai, ai, ai, ai"...
 
Jorge pegou seu cavalo
Encilhou na mesma hora,
Veio dizer prá morenada:
"Ai, adeus que já vou me embora"


 http://www.4shared.com/mp3/BKWmP_PV/Jorginho_do_Serto__Cornlio_Pir.html
 

domingo, 30 de dezembro de 2012

José Dias Nunes - Tião Carreiro

Boa Tarde galera, estou iniciando este blog com o intuito de divulgar e dialogar sobre a música caipira, a autêntica e original música sertaneja, e para começar não poderia de deixar de falar sobre ele, que deixou seu nome gravado em suas canções, nos seus solos de viola, na sua voz marcante, até mesmo quem não gosta de música sertaneja já ouviu falar ou escutou alguma canção, estou falando de José Dias Nunes, o saudoso mestre Tião Carreiro!

Eu sou suspeito a falar, pois sou grande fã de Tião Carreiro, para mim não nasceu e nem nascerá outro igual!

"Tião Carreiro pra mim o que ele aprendeu ele levou com ele." - Frase de João Mulato

Quem começa  a tocar viola nos primeiros acordes com certeza, quer aprender alguma música ou solo de Tião Carreiro. Sua genialidade foi tanta, que ele em uma de suas gravações resolveu inovar e criou o Pagode, um ritmo que até hoje faz sucesso, não se ouve em falar em pagode de viola sem lembar nele, Tião Carreiro o rei do Pagode!


Biografia de José Dias Nunes, Tião Carreiro

Natural de Montes Claros, norte de Minas Gerais, nasceu em 13 de dezembro de 1934.

Filho dos lavradores, seu pai Orcissio Dias Nunes e sua mãe Júlia Alves da Neves, tiveram 7 filhos, quatro homens, Cumercindo, Guilhermino, Jóse Dias Nunes e Valdomiro e três mulheres, Ilda, Maria e Santina.

Neto de Ricardo e Maria por parte do pai e de José Alves e Porcidonia por parte da mãe.

O quarto a nascer de um total de sete filhos: - Cumercindo, Ilda, Guilhermino, José Dias, Maria, Santina e Valdomiro - exatamente nesta ordem.

Até os 10 anos de idade morou no norte de Minas Gerais nas regiões de Montes Claros, Monte Azul, Pajeú, Rebentão e Catuti.

Seu irmão, Guilhermino, morreu ainda menino vítima de um sarampo recolhido.

Levando uma vida humilde, conseqüência da falta de emprego gerada pela seca que assolava aquela região e com a esperança de um futuro melhor a família de José Dias resolve tentar a vida em São Paulo.

Saíram da região de origem num caminhão tipo pau-de-arara e seguiram rumo a Montes Claros onde embarcariam no trem com destino ao interior do Estado de São Paulo. As crianças não possuíam registro de nascimento e por este motivo a família teve que aguardar 3 dias para obter do juizado de menores uma autorização para prosseguirem.

Obtida a autorização seguiram viagem até Paulópolis/SP onde permaneceram por pouco tempo pois seu pai veio a falecer.

A avó materna de José Dias, Dona Porcidonia, morava em Flórida Paulista e foi para lá que se mudaram nesta época.

Algum tempo depois foram tocar roça em Valparaíso/SP.

O pai, quando morreu, deixou-lhe a primeira viola. Uma herança que o garoto saberia como ninguém valorizar. Seus dotes de músico já eram notados, aos oito anos de idade dedilhava no braço da enxada e com elástico nos dedos tentava tirar sons musicais.

O menino da viola nunca foi à escola, mas tinha sonho de ler e escrever. Começou então folheando jornais velhos. E foi dessa forma que José Dias, juntando as letras, se alfabetizou. Da mesma maneira aprendeu a tocar, ou seja, sozinho, observando e juntando acordes e notas.

Aos 16 anos tomou a decisão que marcaria sua vida. Já apaixonado pela música decide deixar o trabalho no campo e se arriscar em outro mundo, em nova profissão. Que sorte a nossa! O Brasil ganharia um dos músicos sertanejos mais importantes que revolucionaria e influenciaria gerações.

José Dias trabalhava como garçom no restaurante do Hotel do Manoel Padeiro, onde, nas horas vagas, cantava músicas populares e sambas da época. Aos domingos participava do programa “Assim canta o sertão”, da rádio transmissora de Valparaíso/SP.

Formou dupla com o amigo Valdomiro e se apresentavam no circo Giglio com os nomes de Zezinho e Lenço Verde.

Formou outras duplas com os nomes de Palmeirinha e Coqueirinho, Palmeirinha e Tietêzinho, Zé Mineiro e Tietêzinho.

O proprietário do circo onde ele tocava naquela época comentou que dupla de violeiros tinha que tocar viola, e ele tocava violão. No mesmo ano, na cidade de Araçatuba/SP, apresentaram-se - Tonico e Tinoco, a dupla Coração do Brasil. Tonico deixou a viola no circo e foi para o hotel descansar, José Dias pegou a viola e decorou a afinação.

Logo em seguida ganhou uma violinha de presente pintada à mão pelo pintor Romeu de Araçatuba. E a partir daí, inspirando-se num dos melhores violeiros da época: Florêncio, da dupla Torres e Florêncio foi seguindo em frente, trilhando seu caminho.

Conheceu Dona Nair Avanço em Araçatuba numa festa junina no ano de 1953, namoraram 14 meses e se casaram.

Tiveram uma única filha, Alex Marli Dias, hoje casada com Gilberto Rodrigues da Silva e mãe de Renan Rodrigues da Silva, com 10 anos, o único neto de Tião Carreiro.

José Dias conheceu Pardinho, seu principal companheiro, no circo Rapa Rapa na cidade de Pirajuí/SP. Pardinho era ajudante braçal e cantava nas horas de folga. Passaram a cantar juntos com os nomes de Zé Mineiro e Pardinho, depois de dois anos a convite de Carreirinho mudam-se para São Paulo. Era Maio de 1956 e sua única filha Alex Marli acabara de nascer.

Já em São Paulo conhecem Palmeira que os apresenta a Teddy Vieira, diretor sertanejo da RCA Victor, gravadora de grande projeção na época.

Teddy os leva a gravadora Colúmbia e batiza José Dias de Tião Carreiro.

Ele não simpatizou com o nome de imediato, mas acabou concordando.

Começa então a história de Tião Carreiro.

Gravam o primeiro disco, um 78 rpm, lançado em novembro de 1956. As músicas eram “Boiadeiro punho de aço”, moda de viola e “Cavaleiros do Bom Jesus”, um cururu, ambas composições do padrinho Teddy Vieira.

Após o primeiro registro, Tião dá um tempo na parceria com Pardinho e forma dupla com Carreirinho. Foi uma época de grande produção. Em março de 1959 nasce um novo ritmo – o pagode-de-viola. Tião percebeu que naquele recortado mineiro que havia gravado misturado a outras batidas , a viola assumia um papel importante, e que havia encontrado algo realmente novo.

Tião Carreiro e Pardinho, novamente juntos, gravam pela primeira vez “Pagode em Brasília”, música de Teddy Vieira e Lourival do Santos. Uma homenagem à nova capital do país. A composição fazia parte de um disco 78 rpm, do selo Sertanejo, lançado com grande sucesso em agosto de 1960.

Tião com sua habilidade e destreza criou inúmeras introduções e arranjos ao pagode-de-viola, verdadeiras preciosidades. Mas Tião não parou por aí, desenvolvendo uma inconfundível batida, inovando com um estilo próprio. Na verdade Tião inventou uma forma original para os violeiros que cantam em dupla e usam como acompanhamento a viola e o violão. Na riqueza de ritmos e estilos Tião gravou moda de viola, cururu, cateretê, valseado, querumana e até tango.

E quando a música sertaneja se tornou mais urbana, ganhando outras influências, o violeiro se mostrou aberto a novas experiências e gravou guarânias, rasqueados e balanços. Ele nunca se preocupou com o gênero musical e sim com o que as pessoas queriam ouvir.

Tião também aprimorou o estilo de cantar em dupla. A segunda voz que é a mais grave era colocada com mais destaque do que a primeira. Estilo que depois foi seguido por várias duplas.

O saldo desta carreira de sucesso: 25 discos 78 rpm com Pardinho e Carreirinho, mais de 50 LPs com variados parceiros, dois LPs em solos de viola caipira e mais de 300 composições com os mais importantes nomes – Teddy Vieira, Dino Franco, Moacyr dos Santos, Zé Carreiro, Zé Fortuna, Carreirinho e Lourival dos Santos, amigo, conselheiro e companheiro mais constante.

Tião Carreiro foi também um dos grandes responsáveis pela popularização da música sertaneja, tirando-a dos programas sertanejos das rádios nas madrugadas e colocando-a nos teatros, rodeios, exposições e no horário nobre da televisão.

Ainda em vida teve o prazer de possuir a viola vermelha de Florêncio e o Violão de Torres. A viola foi cedida por Moreninho da dupla Moreno e Moreninho, e o violão ganhou de um amigo da cidade de São José do Rio Preto – Marco Aurélio Garcia, o Lelo, no dia 11/04/1992.

Tião Carreiro se foi como os grandes mestres, antes da hora, vítima de complicações advindas da diabetes que lhe consumiu lentamente, sem compreender a dimensão e o alcance de seu trabalho. Porém conseguiu o que todo artista sonha – compôs com os melhores letristas, tocou seu instrumento como poucos e cantou como ninguém, era um músico completo. Honrou, sem dúvida a herança recebida de seu pai.

José Dias Nunes, Tião Carreiro, faleceu dia 15/10/1993, e foi Sepultado no cemitério da Lapa, onde foi construído um memorial em sua homenagem e que todos os dias de finados , inúmeros fãs se reúnem em volta do túmulo do artista e passam horas e horas cantando seu repertório e relembrando alguma passagem de sua carreira.

As particularidades de Tião Carreiro

Tião Carreiro, habilidoso tocador de viola, um dos maiores violeiros brasileiros, com seu carisma e talento , exercicia uma magia sobre a pessoas, tendo conquistado um público fiel, que mesmo após dez anos de sua ausência física, continuam cultuando o ídolo.

Tinha um carinho especial pelos fãs, era atencioso com eles, apesar de sisudo, possuía uma doçura embaixo da aparência carrancuda.

Soube cultivar grandes amigos e também conserva-los sempre, homem de aparência séria, as vezes tímido, mas ao mesmo tempo desinibido enfrentava grandes platéias.

Aonde chegava era rodeado de pessoas, que se encantavam com seu jeito autêntico de ser, sua humildade, suas histórias cômicas, folclóricas, exagerando nas coisas propositalmente.

Seu time o Corinthians, sua religião católico não praticante mas devoto de de N.Sra. Aparecida, e acreditava em benzimentos também.

Adorava se vestir bem, jóias, bons perfumes, bons carros, e assistir corridas de cavalos.

Não bebia como todos diziam, muito pelo contrário , guardava os whiskes e pingas que ganhava e formou um coleção de bebidas que gostava de mostrar aos amigos.

O Pagode

Tião Carreiro tocava viola desde jovem, mas era inconformado sempre procurando novas formas de tocar, foi aí que inventou um ritmo diferente, em que a viola batia cruzado com o violão, numa mistura de recorte do catira lento com o recortado mineiro mais expressivo.

O pagode foi criado por Tião Carreiro na rádio cultura de Maringá/PR; Tião começou a bater com sua viola e conseguiu fazer a junção da viola com o violão na mesma gravação.

Chegando em São Paulo, tocou a fita para o Lourival dos Santos – consagrado compositor sertanejo e Teddy Vieira e estes ao ouvi-la , comentaram, parece um pagode – pagode em Minas Gerais era baile, e estava batizado o novo ritmo, e Tião Carreiro tornou-se “O Rei do Pagode”.

O primeiro pagode a ser gravado foi “Pagode em Brasília."(e não Pagode como havia constado).

Na cultura da música raiz , o Pagode sertanejo é hoje um dos ritmos mais tradicionais, tendo projetado Tião Carreiro por seu toque marcante e inconfundível , passando a enriquecer a lista dos ritmos regionais.

(biografia produzida por Alex Marli Dias - filha de Tião Carreiro com a colaboração de Cléber Toffoli e Eliana Arens).


http://www.tiaocarreiro.com.br/interna.php?page=biografia